sexta-feira, 25 de abril de 2014

Carcass - Surgical Steel

Um dos melhores retornos de todos os tempos.


O Heavy Metal deve muito ao Carcass. Os caras foram os pioneiros do grindcore ao lado de bandas como Napalm Death [cujo guitarrista Bill Steer também foi membro, com seus primeiros álbuns no fim dos anos 80], quando o metal extremo ainda estava trilhando seus caminhos, influenciaram legiões de bandas de death metal com o poderoso "Necroticism - Descanting The Insalubrious", e contribuíram também com o modelo essencial para o death metal melódico com o álbum "Heartwork", de 1993, ou seja, o Carcass contribuiu para o gênero mais do que muita banda jamais pensou em fazer. É comprensível então, que os mestres da música extrema são reconhecidos como lendas, e compreensível que um álbum lançado 17 anos depois do último [o famigerado e incompreendido "Swansong"] seria um dos mais aguardados álbuns até então. Considerando o caminho que a banda tomou nos últimos dias do seu primeiro período de atividade, poderia-se até entender a preocupação sobre a qualidade de um novo álbum do Carcass. Entretanto, não tenha medo. "Surgical Steel" é um álbum do caralho!!!

Esteticamente, pode-se dizer que este álbum é uma olhada aos tempos de glórias passadas. Por exemplo, a arte da capa é uma versão nova e melhorada da capa de "Tools of the Trade", de 1992. Musicalmente, ele pode ser visto como uma mistura dos grooves macabros e sombrios de "Necroticism" com as melodias imponentes de "Heartwork", mas "Surgical Steel" é muito mais que isso. Este álbum tem tudo que fez do Carcass essa banda tão espetacular e junta tudo isso em uma obra-prima do death metal.


Começando com "1985", uma faixa com uma introdução atmosférica, aparentemente de uma demo de 1985, de quando eles ainda eram conhecidos como Disattack. Bill Steer faz uma linha de guitarra harmonizada que pode lembrar um pouco Judas Priest [principalmente "The Hellion], é uma faixa que chama bastante atenção e assim que ela chega ao seu final, começa uma pancadaria sem dó. "Thrasher's Abbatoir" surge dos alto-falantes com uma força igual a de um rinoceronte enfurecido, menos de 2 minutos de puro e visceral espancamento sonoro. Imediatamente, fica claro que "Surgical Steel" não é nem um pouco meia-boca, mas sim, uma declaração de guerra de uma banda veterana determinada a mostrar seu valor.

E é incrível como ele fica melhor ao longo que vai-se ouvindo. "Cadaver Pouch Conveyor System" contém alguns dos mais pegajosos riffs já encontrados no death metal, assim como [pra mim, a mais foda do disco] "The Granulating Dark Satanic Mills", talvez influenciada pelo fato de Bill Steer ter tocado recentemente com os ícones da NWOBHM Angel Witch. As músicas neste álbum são bem multi-facetadas, variando muito de grooves bastante trabalhados a uma velocidade frenética, como"The Master Butcher's Apron", assim como variam de blastbeats bem viscerais até um dos riffs mais lentos e devastadores criados recentemente, mas as faixas são sempre completamente coesas, funcionando perfeitamente como músicas que contém contexto, não só um monte de riff jogado. O trabalho das partes de guitarra de Bill Steer foram uma peça fundamental para este álbum, variando desde os ganchos contagiantes de "The Granulating Dark Satanic Mills" e "Cadaver Pouch Conveyor System" até coisas mais sinistras [chegando inclusive a lembrar algumas coisas do Slayer] que abrem faixas como "A Congealed Clot of Blood". Fechando o disco, "Mount of Execution" é uma das melhores músicas que você vai ouvir este ano [se não foi a melhor música de 2013], sua introdução acústica dando lugar a um monumento colossal do death metal de imensas proporções. De uma natureza quase progressiva, ela muda de seção em seção com uma beleza selvagem e convicção inigualável, o que é convincente o suficiente para garantir que o ouvinte se satisfaça ao ouvir o álbum. A música tem uma conclusão natural por volta de uns 6 minutos, deixando o ouvinte pensando que acabou, antes de explodir de novo com um groove foda pra caralho.

Produzido por Colin Richardson e mixado por Andy Sneap, duas lendas de estúdio no metal, este álbum é sonoramente perfeito. Bill Steer prova que é um dos gênios da guitarra no metal extremo hoje em dia, com melodias muito boas, solos de arrepiar e riffs fodas que fazem as músicas serem da forma que são. O baterista Dan Wilding provou que é uma substituição perfeita para o baterista original Ken Owen, que sofreu uma hemorragia no cérebro que deixou sequelas e por isso, não se juntou ao Carcass para a reunião. A performance de Wilding é absolutamente perfeita neste álbum, levando a música a novos patamares de intensidade com blast-beats impecáveis, ritmos criativos e viradas excepcionais. Owen, enquanto isso, faz uma aparição contribuindo com backing vocals junto com Bill Steer, por sinal é a primeira vez que guturais mais graves são usados junto com a voz rasgada de Jeff Walker desde "Necroticism". O próprio Walker está em boa forma. Seus vocais estão grotescos e insanos como sempre, e "Surgical Steel" é o lugar de algumas das letras mais legais, cobrindo temas como guerra, religião, os horrores da indústria de carne, as descrições gráficas médicas que eram muito usadas por muito tempo durante os tempos grindcore do Carcass, a densa escuridão da Revolução Industrial, e até mesmo uma crítica às bandas novas, genéricas e sem inspiração em "Noncompliance to ASTM F 899-12 Standard", hilariamente chamando-as de "dearth metal", algo como "metal pra retardado", rsrsrsrs.

Enfim, "Surgical Steel" é foda pra caralho.
"Swansong" certamente não foi a melhor forma de encerrar o legado da banda, e com "Surgical Steel" eles se certificaram que esse legado é algo que continuará no futuro.

Carcass é:
Jeff Walker - Vocal e Baixo.
Bill Steer - Guitarra e backing vocals.
Dan Wilding - Bateria.
Ben Ash - Guitarra [entrou na banda após o disco ter sido gravado].

Download: Mediafire

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