terça-feira, 4 de novembro de 2014

Slipknot - .5: The Gray Chapter

A morte de Paul Gray poderia facilmente dar fim ao Slipknot, mas a banda perseverou e dedicou o seu 5º álbum, ".5: The Gray Chapter" para o finado baixista.


Dividamos este review em 3 partes.


Quanto ao som:
O fato do Slipknot demorar a lançar seus discos deve, com certeza, ser uma das inúmeras razões pra cada um de seus álbuns serem tão lembrados, antes e depois de seus lançamentos. Mas mesmo antes que o 5º disco do Slipknot tivesse uma demo ou um título, as possibilidades da banda acabar estavam sendo bastante especuladas quando o baixista [e um dos membros fundadores] Paul Gray faleceu em 2010, dois anos após o lançamento do seu 4º álbum, "All Hope Is Gone". Após um hiato por conta do luto em que a banda se encontrava, o Slipknot decidiu continuar, embora timidamente, e em 2013, um 5º álbum estava finalmente em processo de criação. Não bastando a adversidade que enfrentavam, este disco também não mais incluiria seu baterista de longa data, Joey Jordison, cuja saída, até agora, não foi muito bem esclarecida. Com muitas pedras pra quebrar ao longo do caminho, ".5: The Gray Chapter" se tornou o álbum que, provavelmente gerou mais expectativa entre os fãs.
Antes de seu lançamento, o vocalista Corey Taylor descreveu o novo disco como um mix entre "Iowa" e "Vol.3: The Subliminal Verses", mas sinceramente, dá pra encontrar as essências de todos os álbuns anteriores da banda só neste novo. Desde o ritmo frenético das seções de blast-beats e palhetadas aceleradas até os solos que "roubam a cena" em "Killpop", "Nomadic" e "The One That Kills the Least", a técnica instrumental pós-Iowa da banda permanece intacta - tanto que nem dá pra perceber a ausência de Jordison - também Sid Wilson [o DJ] e Craig Jones [o responsável pelo sampler] trabalharam bem mais, e trouxeram uma essência bem forte da época do 1º álbum para o novo. Ao contrário do álbum "All Hope Is Gone", onde os riffs eram mais cheios de rodeios, neste aqui não, os riffs de guitarra são bastante diretos e concisos à la "Iowa", mesmo assim, são bem aprazíveis, como o riff de "Sarcastrophe" e a insanidade de "Custer". Os versos em "The Negative One" trazem uma similaridade com os versos de "Disasterpiece", "Nomadic" é bastante similar a "My Plague", e até mesmo o riff da bridge de "If Rain Is What You Want" aparenta ser uma versão mais lenta do riff da bridge de "I Am Hated".

Quanto às letras:
Esses sentimentos de culpa que constantemente afloram ao longo do álbum segue de mãos dadas com o tema primário do álbum: a morte de Paul. Só as primeiras palavras da faixa de abertura "XIX" ["this song is not for the living / this song is for the dead" - esta música não é para os vivos / esta música é para os mortos] claramente mostra a quem o disco é dedicado. Praticamente, toda música do disco contém uma linha que parece inspirada pela tragédia - desde a frase ["I don't want to watch another brother fucking die"] em "AOV", filosofando sinistramente ["some of us were meant to be outlived"] em "The Devil in I" até abordando a força que o Slipknot buscou após a morte de Paul em "Goodbye". Mas o maior tributo a ele está em "Skeptic", onde Corey aparece questionando a existência de um deus que deixou Paul morrer tão tragicamente é carregada com sua convocação pessoal sobre fazer a passagem de Paul pela banda ser eterna ["I won't let you disappear / I will keep your soul alive if I can't have you here"].

Impressão geral:
Muitos podem ridicularizar o Slipknot como posers ou se lamentarem sobre como irritante foi quando eles tiraram o chapéu para o Metal mais comercial com "Vol. 3: The Subliminal Verses", mas ainda assim eles merecem seu devido crédito, que não é pouco. Considerando que eles tiveram apenas quatro álbuns no currículo desde seu álbum de estreia em 1999, é impressionante o quanto eles conquistaram, e enquanto a marca Slipknot é suscetível à analogia de Kiss do século 21, eles louvavelmente fizeram o oposto e não deixaram o simbolismo tomar o lugar de sua música.

Não há dúvida que este foi um álbum seminal para o Slipknot em muitas formas, logo, existe muito mais franqueza e penitência verbal encontradas nestas letras do que em qualquer outro álbum da banda. Em relação à sua carreira longa e bem-sucedida, Taylor dá voz aos problemas que ele tem nesta situação - de extravasar seu desconforto sobre seu status como um cantor mega-famoso em "Nomadic", onde ele grita para todos "I need you to hate me" [algo como "eu preciso que vocês me odeiem"], e zombando de oportunistas gananciosos da indústria musical em "Lech", e "The Negative One", que poderia possivelmente mencionar a não-muito-clara separação entre a banda e Jordison. Mas ultimamente, muitos dos sentimentos negativos de Taylor nesse álbum se voltam contra ele, com um tema recorrente constantemente nas letras, abordando o senso de culpa que ele guarda e a punição que ele sente que merece.

Enquanto "Iowa" era pra ser uma evolução natural do 1º disco, e "All Hope Is Gone" era pra ser uma evolução natural do "Vol.3: The Subliminal Verses", ".5: The Gray Chapter" não está tentando ser o melhor álbum já feito da carreira do Slipknot, mas sim, um agregado do som deles nesses quase 20 anos de carreira. Considerando o fato de que fazem 6 anos desde o lançamento do último álbum deles [13 anos desde seu álbum mais aclamado, o "Iowa"], e dado ao fato de que eles perderam 2 de seus membros-chave antes de começarem a fazer o disco, o resultado poderia ser desastroso, mas não. Contudo, mais importante para a banda, ".5: The Gray Chapter" serve como um tributo apropriado a Paul, e quando o Slipknot tiver um público de milhares cantando junto o refrão de "Skeptic", é certeza de que o espírito de Paul se sentirá vivo - o que é provavelmente a única coisa que importa para eles com este álbum.

Fiquem com alguns aperitivos deste disco, os singles "The Devil In I" e "The Negative One".